sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Ensino presencial e educação à distância: algumas reflexões – parte 1

A internet chegou ao público brasileiro nos últimos anos do século passado, e no decorrer dos primeiros anos deste século a expansão tecnológica da web teve um ritmo alucinante, não apenas em termos qualitativos mas também quantitativamente no que se refere ao número de usuários. Um dado relevante, em um país cercado de desigualdades socioeconômicas como o Brasil, é o fato de que a chamada “classe D” – composta por pessoas com faixa de renda familiar mensal de R$ 768,00 a R$ 1.114,00 – tem tido participação crescente na utilização dos recursos oferecidos pela rede, motivados pelo barateamento dos equipamentos de informática (com possibilidade de longos financiamentos) e dos custos de acesso de conexões de banda larga (outras informações em matéria do jornal Valor Econômico do dia 06/10/2009 – “Classe D chega ao mundo digital - Os bolsões de pobreza das grandes cidades brasileiras são a mais nova fronteira de expansão da internet”  também disponível em http://www.valoronline.com.br/?impresso/caderno_a/83/5856181/classe-d-chega-ao-mundo-digital.) Para os que duvidavam do caráter democrático da web, esse dado confirma a tendência já verificada em outros segmentos,  no sentido de que o uso da tecnologia tem a capacidade de romper fronteiras até então consideradas intransponíveis para certas camadas menos privilegiadas da sociedade.


Um dos aspectos mais importantes dessa expansão tecnológica e democrática é a possibilidade de implantação do “ensino à distância”, cognominação que se atribui às modalidades de aprendizado em que o aluno não compartilha o mesmo ambiente físico do professor, mas estuda a partir dos materiais que lhe são apresentados remotamente. Admite-se, com isso, que mesmo aquelas que vivem em localidades distantes, em dificuldades de locomoção a grandes centros urbanos, possam usufruir do mesmo tipo de aprendizado dos quais dispõem os que se situam em localidades com maiores oportunidades educacionais. E mesmo para os não sofrem das mazelas da distância, mas são refreados por fatores econômicos (capacidade financeira insuficiente para sustentar um curso presencial) ou organizacionais (dificuldades de conjugar os compromissos formais da sala de aula com outras atividades familiares ou profissionais), o ensino remoto tem a capacidade de assegurar com plenitude os elementos essenciais para a formação do cidadão, em qualquer de suas áreas de conhecimento.


É verdadeiro que o ensino remoto não constitui propriamente uma novidade, em termos educacionais. Há muito tempo se praticam no Brasil outras modalidades de aprendizado, sem a necessidade da presença física do aluno em sala de aula. Lembro-me dos cursos “por correspondência” oferecidos pelo Instituto Universal Brasileiro, cujos anúncios eram publicados nas revistas em quadrinhos que li durante toda minha infância e adolescência... Também me recordo pelos cursos profissionalizantes oferecidos pelo Senac, para qualificar adolescentes ao trabalho em atividades de escritório. E ainda, aquelas instituições universitárias muito sólidas, como a Universidade de Brasília, que possuía, em seu Decanato de Extensão, o chamado Serviço de Ensino à Distância. Isso sem se falar nas experiências realizadas por determinadas emissoras de televisão, produzindo o que genericamente passou a ser chamado de “Telecurso”, que oferecia elementos básicos de informação aos que não podiam frequentar os bancos escolares formais.


Se assim ocorre há muitos anos (ao menos uns quarenta, como me permite o testemunho ocular), o que representa o ensino à distância quando associado à fenomenologia da internet?  Não há dúvidas de que o elemento fundamental é a disseminação de seu uso, que torna mais amplo o acesso às informações que nela são veiculadas. Por certo que a televisão já cumpria esse papel, mas com as restrições naturais com relação à interatividade. O ensino à distância realizado pela TV não diferenciava o aluno do telespectador de qualquer outro programa: era tratado como um simples sujeito passivo do programa que estava sendo transmitido.
Com os recursos da web, além da ampliação da base de sua abrangência, os recursos hoje existentes permitem uma infinidade de associações intelectuais por parte do aluno, que produzem um resultado extremamente interessante na composição do conhecimento, que cada vez mais se mostra necessariamente voltado à consolidação de ideias multidisciplinares. Afinal, o desenvolvimento reticular da sociedade contemporânea não oferece lugar para realizações intelectuais segmentadas, desconectadas dos demais elementos de compreensão dos fenômenos que cercam o ser humano e o meio social em que ele vive.


Apesar desses argumentos, não são poucos os que veem o ensino remoto com grave desconfiança. Por isso, na sequência deste texto , vamos analisar as principais diferenças entre o ensino presencial e o ensino à distância, no que se refere à sua eficiência e à metodologia de estudos que essa modalidade de aprendizado exige, por parte do professor e do estudante.

Carlos Eduardo Oliveira Dias
Juiz do Trabalho, Mestre em Direito pela PUCSP e Professor do Instituto Germinal 

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